quarta-feira, 11 de março de 2015

Sobre a manifestação pelo impeachment da Presidente Dilma

Vivemos um momento sério no Brasil e inúmeras vozes se levantam para liderar o povo brasileiro. É inegável que nos colocamos, como povo, em uma difícil situação política, ao escolhermos nossos governantes, nessa e em algumas outras eleições.

Vivemos em uma Democracia e, como tal, elegemos, entre outras autoridades, nossa Presidente. Escrevo 'nossa' não como se defendesse sua forma de governar o país, mas no sentido de que, no processo democrático, o resultado das eleições aponta aquele que foi eleito para governar, no caso das eleições presidenciais, todo o Brasil e não somente àqueles brasileiros que o elegeram.

Resulta das últimas eleições presidenciais que Dilma Roussef é a presidente do Brasil.


Isso foi definido pelo povo brasileiro, há apenas alguns meses. Pergunto-me se a justificada insatisfação com o Governo, que, prontamente, descumpriu promessas de campanha e tem dificuldade para assumir suas responsabilidades, é o suficiente para que o povo queira voltar atrás em sua decisão soberana e escolher outro Presidente. É certo que há escândalos de corrupção envolvendo o partido da Presidente e outros partidos que a apoiaram. Também é certo que:

"A corrupção não é um problema da Dilma, do Lula, do Fernando Henrique, nem do Collor, nem do Sarney. 
A corrupção é um problema nosso." 
(Marina Silva, referindo-se à sociedade, em conversa com os alunos de Harvard)

Para que seja possível o impeachment da Presidente, será necessário que o pedido seja protocolado junto ao Congresso Nacional, acompanhado de documentos que comprovem a denúncia. Existem provas de que Dilma tenha cometido improbidade administrativa ou esteja colocando em risco a Segurança Nacional? Há provas que a liguem diretamente aos escândalos de corrupção que têm sido revelados? Não havendo provas, não pode haver processo de impeachment. Havendo provas, o processo ainda precisará ser votado e aprovado por dois terços, tanto no Congresso Nacional como no Senado. Caso fosse aprovado, assumiria a Presidência do Brasil o Vice-Presidente, Michel Temer, o que faz com que outra pergunta insista: O que ganharíamos como Nação, tendo Michel Temer como Presidente? O que muitas pessoas não sabem é que, em caso de impeachment da Presidente, não serão convocadas novas eleições e não será Aécio Neves quem assumirá o Governo. Novas eleições diretas seriam convocadas apenas se o Vice-Presidente sofresse, também, impeachment na primeira metade do mandato.

Sabendo disso e, ainda assim, acreditando que devem ir às ruas pedir o impeachment, reconheço que  se manifestar contra o Governo é um direito do povo. O importante é que a manifestação ocorra de forma pacífica e que seja legitimamente popular. Quem se manifestar nas ruas no proximo dia 15/03, deve certificar-se de não estar sendo manipulado por grupos ou interesses partidários. Quem quiser se manifestar precisa ter certeza de que está se manifestando pacificamente. Afinal, um erro não conserta outro. Agressões verbais, físicas ou materiais reverterão o quadro em que o Brasil se encontra? Ser manipulado por um ou outro grupo ou interesse partidário é melhor que ser governado pela Presidente?

"As pessoas devem ter maturidade em suas escolhas." (Marina Silva, em Harvard, durante conversa com estudantes, em evento fechado)

O povo brasileiro precisa ter ideais de Justiça e paz. O povo brasileiro não pode ser massa de manobra, nem para o Governo, nem para a oposição. O povo brasileiro precisa pensar. Não somente para se manifestar nas ruas, mas, especialmente, para entender o que é política e identificar que o que  se pratica atualmente, em nossa Nação, NÃO É POLÍTICA.  Segundo Aristóteles, Política é a arte de promover a felicidade do povo. O povo precisa pensar para começar a fazer política, como povo, e envolver-se, conscientizar-se, fora do período eleitoral, para que um povo politizado comece a gerar homens e mulheres que façam POLÍTICA, política como tem que ser feita, visando o bem-comum, política de verdade, uma nova política. Enquanto não vivemos isso, o povo precisa pensar no que vê e ouve antes do período eleitoral. Precisa comparar resultados de ações daqueles que foram eleitos. Precisa denunciar e rejeitar os corruptos, os corruptores, os que se encostam em seus mandatos, os que exercem seus mandatos apenas por interesses particulares. O povo precisa enxergar e valorizar aqueles que trabalham pelo bem do povo e elegê-los. Para que haja políticos honestos, fazendo politica de verdade, mesmo em meio à corrupção que existe, hoje, nos três poderes... Pessoas assim já existem, homens e mulheres comprometidos com a prática da Justiça, mas, frequentemente, o povo demonstra preferir votar naqueles que fazem qualquer outra coisa em seus mandatos, menos governar em prol da felicidade do povo... Isso precisa mudar!

O povo brasileiro precisa agir. Indo às ruas de forma pacífica e sem ser manipulado? Pode ser, é direito seu. Mas, especialmente, o povo brasileiro precisa agir no dia-a-dia, começando a deixar o jeitinho brasileiro de lado, adotando a honestidade como bandeira, a lealdade como freio, a responsabilidade pelo que é de todos como compromisso. São valores que faltam ao povo, em geral, e, portanto, faltam aos seus representantes, que, uma vez eleitos, usam suas posições de autoridade para oprimir e institucionalizar a opressão. Isso precisa mudar!

Hoje, estamos mal representados, porque escolhemos mal, porque fiscalizamos mal, porque mal pensamos e porque agimos mal. As autoridades que elegemos como povo, no processo democrático, quer tenhamos votado individualmente nelas, quer não, sim as autoridades, enfim, eleitas, são aquelas pessoas escolhidas como se fossem as melhores pessoas da cidade, do estado, da Nação e, portanto, tivessem direito à nossa confiança de que viverão o seu mandato para promover a felicidade de todos. Infelizmente, temos escolhido mal. Somente o povo pode mudar isso!

Não dá pra fazer uma passeata nas ruas pra mudar a consciência e a forma de agir de um povo. Isso se faz no dia-a-dia. Pessoalmente, estou comprometida com isso e conheço homens e mulheres que, também, estão. Não vou citar nomes, porque escrevo o que tenho refletido e não posso comprometer a ninguém com a minha opinião. Opinião que tenho direito de expressar e que deveria ser recebida com respeito, mesmo por aqueles que não pensam como eu.

Partindo do mesmo princípio, respeito a quem decidiu ir às ruas se manifestar contra a Presidente, embora eu mesma não vá. Só lhes peço, se posso, que cuidem para que a manifestação seja pacífica e assegurem-se de que não estão sendo manipulados por grupos ou interesses partidários. Façam com que a manifestação seja genuinamente popular e contribua para a felicidade de todos. Se for assim, quem sabe seja o começo da prática de uma nova política, da política de verdade?

Jackeline Sarah
Escritora

Fonte: 
As citações foram atribuídas a Marina Silva pelo Estadão.

2 comentários:

  1. Obrigada, Estou aprendendo de tanto ler ouvir.Embora não tenha certeza de nada. Suas palavras são claras.

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    1. Obrigada, Ana. É muito importante nos abrirmos para aprender. Seu comentário é importante!

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